As meninas - prodígio
Tudo começa quando me convidam para ver um parto. Uma mulher que praticamente não conheço deixa-me vê-la a deitar ao mundo a sua segunda filha. Todos deveríamos ver partos, penso eu. Quero escrever um artigo sobre o assunto. Quero derrubar esses falsos mitos do nascimento asséptico com uma mãe lindíssima a pegar num bebé redondo e perfeito ao colo. Tenho trinta e um anos. Nunca pari e não sei se o quero fazer, ainda assim quero vê-lo. Nasci no sistema capitalista. Quero ter tudo, ver tudo, viver tudo. Não posso perder nada…
As meninas-prodígio é uma tragicomédia em vários actos e um conto com tons de terror gótico mas, sobretudo, um relato contemporâneo sobre a identidade que arranca num presente imperfeito para regressar a todas as idades de uma mulher.
Obra parcialmente autobiográfica, movida pelo estigma do amour fou por um homem mais velho e alcoólico, na voz de uma narradora pansexual, provocadora e sentimentalmente voraz.
Dificilmente encontraremos uma autora que questione de forma tão genuína o mundo que a rodeia, sem perder de vista a busca do seu mais íntimo centro de gravidade permanente.
O último dia da Terranova, de Manuel Rivas, e Sete Casas em França, de Bernardo Atxaga, inauguraram Confluências, uma coleção que pretende ser um abraço entre línguas, uma fantasia editorial que pretende mostrar - em português e em espanhol - obras em destaque da literatura escrita nas diversas línguas faladas na Península Ibérica e na América Latina.